top of page

Saúde Mental e Jogos

  • Foto do escritor: Psicº. Alan Müller
    Psicº. Alan Müller
  • 12 de fev. de 2020
  • 3 min de leitura

ree

O aumento exponencial da prática de consumo de jogos eletrônicos por adolescentes tem gerado um grande desafio aos pais brasileiros. Muitos se questionam se esta prática é saudável aos filhos. O presente artigo não tenta mascarar os problemas envolvidos no consumo demasiado deste tipo de entretenimento, pois objetivamos abordar o lado positivo desta prática. Destarte, salientamos que este texto trata do uso moderado dos jogos e seus benefícios para a saúde mental. Em casos de descontrole ou adição aos games, sugerimos a procura de ajuda profissional. E podemos no futuro, caso houver interesse dos leitores, publicar um texto referente às implicações do uso e abuso dos jogos.

Ressalta-se que a prática de jogar é extremamente antiga, muitos jogos de tabuleiro remontam à Antiguidade e Idade Média, entre as mais diferentes culturas.


ree

Muitas pesquisas apontam que o ato de jogar diminui a ansiedade, estimula o raciocino lógico, ensina disciplina e a habilidade de seguir regras. Não por acaso, muitos terapeutas utilizam-se do RPG (jogo de interpretação) como instrumento terapêutico, possibilitando aos pacientes a experiência de vivenciar outros papéis, desenvolvendo assim a habilidade de empatia, ou seja, a habilidade de se colocar no lugar do outro, de tentar vivenciar a experiência alheia. Dessa forma, os terapeutas formulam cenários personalizados utilizando como fundamento as dificuldades pessoais dos pacientes (jogadores). Assim, o personagem do jogo apenas evolui quando o paciente realiza uma tarefa em sua vida cotidiana, como por exemplo estudar para uma prova. Logo, o comportamento emitido fora da sessão impacta na história do jogo. O mesmo se aplica em vivência de violência ou bullying, possibilitando que paciente experimente novas condutas em prol de seu desenvolvimento no jogo.


Para além da terapia, os jogos podem ser utilizados como ferramentas pedagógicas pelos pais e professores. Frisa-se aqui o treinamento da habilidade de autocontrole emocional. O ato de perder um jogo faz com que muitas emoções aflorem e assim o jovem poderá ir criando um repertório de habilidades para lidar com estas emoções. Destaca-se que na nossa relação com o mundo acabamos vivenciando a tríade sensação, emoção e sentimento. Ou seja, quando captamos algo por meio de nossas sensações emitimos uma emoção que pode, ou não, ser racionalizada em um sentimento. Normalmente agimos de forma irrefletida, percebemos algo e disparamos uma resposta emocional (perder um jogo e esbravejar). O ideal seria que conseguíssemos racionalizar esta emoção (visto que é impossível impedir que ela ocorra) e assim responder ao que está acontecendo de outra forma. Destacamos aqui o jogo de xadrez como exemplo, já imaginou quantas habilidades emocionais a criança precisa gerir durante uma partida? Pois bem, o treino por meio de jogos poderá dar fruto no futuro, quando esta criança se deparar com alguma frustração no seu cotidiano.


ree

Outro aspecto importantíssimo nos jogos, principalmente naqueles que envolvem interpretação de papéis, refere-se a atualização autobiográfica. Explico. Para Aristóteles, as crianças deveriam iniciar sua formação pela arte poética, ouvindo histórias, poesias, músicas, etc. Toda esta substância imaginária possibilita que a criança acumule experiências, como se fossem peças de "Lego" que usará posteriormente para montar algo. Por meio das histórias ela vivencia experiências imaginárias e cria um repertório vasto de conceitos abstratos. Mesmo que o a criança não conheça o conceito de justiça formalmente, por exemplo, ela saberá identificar em uma história quando algo foi justo ou não. Assim, com essas peças de “Lego” ela poderá criar novas imagens para cada situação. O jogo com histórias permite este treino, gerando novas experiências, tal qual faz a literatura. Dessa forma, o jovem pode atualizar a sua compreensão do seu eu biográfico, da sua própria história, podendo compreender melhor a si mesmo diante de suas experiências cotidianas comparando-as com aquelas que vivenciou nos jogos. Este exercício também proporciona a possibilidade de treinar a empatia, visto que será mais fácil para o jovem compreender os outros uma vez que experimentou vivências imaginárias que se assemelham com os momentos que outros indivíduos podem estar vivendo.


Em suma, se dosado da forma correta o jogo pode ser um grande aliado e não um vilão. Como tudo na vida a temperança é necessária. Tempero demais deixa a comida intragável, sem tempero fica sem gosto.


Até a próxima.

 
 
 

Comments


Alan Müller

Psicólogo (CRP-12/15759)

Isabel Fuchs Müller

Psicóloga (CRP-12/10588)

bottom of page