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Ansiedade e o desespero humano

  • Foto do escritor: Psicº. Alan Müller
    Psicº. Alan Müller
  • 14 de nov. de 2018
  • 3 min de leitura

“Assim como um médico pode dizer que provavelmente não existe um único ser vivo que seja completamente saudável, então qualquer um que realmente conheça a humanidade poderia dizer que não existe um único ser humano que não abrigue secretamente uma inquietação, um conflito interno. Uma desarmonia, uma ansiedade sobre algo desconhecido ou algo que ele nem ousa tentar saber, uma ansiedade sobre alguma possibilidade na existência ou uma ansiedade sobre si mesmo … uma ansiedade que ele não pode explicar”.

- Soren Kierkegaard, O Desespero Humano



A ansiedade desnuda-se como um ponto central no drama da vida humana, levando o pensador Soren Kierkegaard (autor do trecho acima) a coloca-la como uma circunstância inata da condição humana. Neste sentido, a ansiedade configura-se como uma angustia frente à existência.


Para a medicina, conforme o CID 10, o transtorno de ajustamento refere-se ao sentimento de opressão e de incapacidade de funcionamento, correlacionando-se com "sintomas físicos relacionados ao estresse, como insônia, cefaleia, dor abdominal, dor no peito, palpitações", bem como fadiga, complicações com a autoestima e com autocontrole emocional. Trata-se pois de uma preocupação exacerbada da qual decorrem diferentes sintomas físicos e psicológicos. O termo preocupação elucida algumas pistas deste fenômeno. Pré-ocupar-se. Preocupação. Estar ocupado antes da ocupação em si ocorrer. Kierkegaard aludia a isto a incerteza do movimento temporal no homem. Este modo de levar o pensamento para além do que ocorre no presente.


A origem etimológica da palavra ansiedade remete ao vocábulo grego agkho (αγχω) que contempla a significação de estrangular, oprimir e sufocar. Já na Ilíada de Homero, escrita por volta do século VIII, o filho de Áres, Fobos é compreendido como aquele que leva o terror, e seu nome dá origem ao termo fóbia. Assim, temos relatos da antiguidade tratando da ansiedade, relegando a ela e a fobia com uma influência divina.


Como Ares, homicida, quando entra em combate,
Seguido pelo Filho, Fóibos, o Terror,
Potente e sem temor, que aterra mesmo aqueles
De flâmeo coração.
(ILÍADA, canto XIII, verso 295)

Outra divindade ligada ao desespero é Pã, de onde deriva o termo pânico. Devido a sua fealdade sua mãe lhe abandona desesperada ao contemplá-lo. Sua aparência era descrita como bestial, com patas de bodes e chifres. Sua presença instava o pânico naqueles que o contemplavam.

Ora, se desde os tempos remotos a ansiedade permeia a vida humana, é necessário compreender que esta é de fato uma reação natural e necessária ao corpo. Entretanto, quando ocorre em excesso pode trazer consequências comprometedoras à saúde. Nestes casos é que pode surgir o que alguns teóricos chamam de transtorno de ansiedade, o qual remete a certos cuidados e que pode requerer a ajuda de algum profissional.



Kierkegaard indexa a ansiedade humana à sua indelével condição de liberdade de escolha. Nesta perspectiva, a liberdade de construir um eu, de escolher quem eu serei, impele na ansiedade. Esse estar no mundo como sujeito singular leva ao questionamento das próprias atitudes. Mas escolher matar esta qualidade de escolha humana, ou seja, negar sua liberdade, acaba gerando um quadro de desespero. Kiekergaard aponta então estes dois caminhos de acesso à vida: a angustia ou o desespero, a ansiedade ou a depressão. A ansiedade move e a depressão congela a volatilidade do ser. A depressão seria a negação da atualização da vida, enquanto a ansiedade pode ser encarada como uma espera pelo futuro. Apesar disto, esta segunda abarca ainda a difícil tarefa de saber dosá-la. Reconhecer a ansiedade é o primeiro passo para conviver com ela, mas entregar-se a ela sem temperança pode culminar em outros dissabores.

 

Autor: Alan é Psicólogo (CRP-12/15759), atuando com psicologia clínica na cidade de Brusque - SC; Além disto é Escritor, Mestrando em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), graduado em Psicologia pela UNIFEBE, com ênfase em Prevenção e Promoção de Saúde, e graduado em História pela Universidade Paulista. Membro ativo do Laboratório de Fenomenologia e Subjetividade (LabFeno) da UFPR.

1 Comment


Schirlene Silva
Schirlene Silva
Apr 12, 2019

Virei fã dessa página. Precisamos de mais conteúdos assim.

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Alan Müller

Psicólogo (CRP-12/15759)

Isabel Fuchs Müller

Psicóloga (CRP-12/10588)

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