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A Pessoa

  • Foto do escritor: Psicº. Alan Müller
    Psicº. Alan Müller
  • 11 de dez. de 2018
  • 3 min de leitura

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Leitor(a)...

Proponho no presente artigo delinear alguns aspectos da pessoa humana. Sim, pessoa. A pessoa é uma das inúmeras circunstâncias que compõe a realidade. Ela é nossa natureza biográfica para além do nosso espectro biológico. É com a pessoa que as coisas acontecem. Como dissera Ortega y Gasset, “o homem não é um QUE, mas um QUEM”. Normalmente, uma das perguntas mais difíceis de responder é: “Quem é você?”. A descrição da pessoa que eu sou engloba uma incontável gama de acontecimentos e por isso nos parece que faltam palavras para descrever com a devida precisão. Ainda assim, conhecer esta biografia que forma minha pessoa se torna um processo fundamental.


O filósofo Leibniz havia questionado: “Por que existe algo ao invés do nada?”. Esta é uma pergunta fundamental. Afinal, há algo, há a realidade. E há de tal forma que não nos questionamos cotidianamente sobre isto. Mas, esta pergunta de Leibniz fora refeita diversas vezes por outros tantos pensadores. “Por que o Ser e não o Nada?”. O filósofo francês Descartes buscou colocar em cheque a própria existência, com sua dúvida radical, chegando na máxima “Penso, logo existo”. Ou seja, ainda que duvide de tudo, da própria realidade, ainda estou pensando e logo existo. Se existo, algo existe. Assim a pergunta fundamental permanece em aberto. Por que o Ser e não o Nada?


Entretanto, o ser e o nada não é a questão crucial deste artigo, mas sim a pessoa. Evocamos esta máxima da filosofia para compreender uma questão crucial: Quem é que se pergunta sobre a possibilidade da existência? Quem faz a pergunta crucial? Quem questiona a possibilidade da realidade? Naturalmente é alguém! Alguém faz esta pergunta. Todas as teorias, sejam elas científicas, filosóficas, religiosas, artísticas ou até mesmo de senso comum, buscam entender esta realidade, explica-la. Mas, como eu encontro esta realidade? Como ela se mostra? Ora, eu a encontro em minha vida, ou seja, vivendo. É apenas por meio da minha vida que me pergunto sobre a realidade, sobre o cosmos, ou sobre qualquer outra coisa. Neste sentido, a minha vida é raiz de todas as coisas, é por meio dela que tudo o mais recebe uma significação.


Então, quando perguntamos o que é a realidade o fazemos a partir de nossa própria vida, nossa vida biográfica, individual, com nossa pessoa. Logo, quando alguém pergunta o que é a realidade, subjaz outra questão: “Quem pergunta?”. E a resposta será, eu! Eu pergunto. Não a humanidade enquanto puro abstracionismo. Eu pergunto e falo sobre tudo, sobre livros, comida, outras pessoas e até mesmo a possibilidade da existência da realidade. É este eu que eu sou que faz filosofia, ciência, etc. Há sempre uma relação da minha vida com as coisas. Este eu biográfico que vive sua vida é justamente a pessoa. E isso é importantíssimo, pois comumente se confunde a pessoa com uma coisa. Um alguém não é uma coisa. A própria língua não confunde isto. A língua não confunde nada com ninguém, ou algo com alguém. Muito menos um que com quem. Logo não há razões de se perguntar o que é o homem, mas sim, quem sou eu?


Eis que surge a grande confusão, pois em nossa vida estamos lidando diretamente com coisas, com copos, facas, livros, pedras, árvores, etc. Coisas tangíveis e reais. Mas a pessoa, este eu que sou, ele não tangível desta forma. Pois a pessoa é formada por realidade e irrealidade, pois ela formada por coisas que ocorreram, que ocorrem e que ainda ocorrerão. Mas, como lidamos com coisas continuamente acabamos por “coisificar” a pessoa. E esta coisificação cristaliza a pessoa, impede o movimento de atualização desta biografia. Se sou uma coisa estou pronto, preso neste estado que sou, interrompendo meu processo biográfico de construção da minha pessoa. Mas se sou um eu e não coisa, estou constantemente desvelando este drama que é ser eu, esta novela íntima, pessoal e intransferível. Quando coisificamos aniquilamos este espectro pessoal da vida humana, esta individualidade que é praticamente inesgotável devido a sua vivacidade contínua, sua atualização enquanto se realiza. Eis que a pessoa está completamente realizada na hora da morte, pois ali não está mais passível de atualização, está rígida. Enquanto há vida há esperança de atualização. Não por acaso, nunca conseguimos terminar de conhecer alguém, sempre há algo mais.


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Neste sentido, propõe-se uma nova perspectiva de compreensão da vida humana. Uma perspectiva a partir do eu, como eu compreendo esta realidade. Quem é este eu que se pergunta sobre a realidade, sobre o amor, sobre os dramas da vida. Quem é esta biografia que sou eu. É este eu que se desvela pelo autoconhecimento.



Autor: Alan é Psicólogo (CRP-12/15759), atuando com psicologia clínica na cidade de Brusque - SC; Além disto é Escritor, Mestrando em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), graduado em Psicologia pela UNIFEBE, com ênfase em Prevenção e Promoção de Saúde, e graduado em História pela Universidade Paulista. Membro ativo do Laboratório de Fenomenologia e Subjetividade (LabFeno) da UFPR.

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Alan Müller

Psicólogo (CRP-12/15759)

Isabel Fuchs Müller

Psicóloga (CRP-12/10588)

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